Dampyr 306
As asas da noite
Crítica do Dampyr de Giovanni Eccher,
Gianmaria Contro e Simone Delladio
Depois de mais de cinco anos, Giovanni Eccher, ausente desde a edição 243 de Silverpilen, retorna à Dampyr - auxiliado por Gianmaria Contro no roteiro - e o faz com um episódio linear e fluido que se encaixa perfeitamente no clima da série.
A ambientação real é o Sudão e o conflito que assola o país, território já abordado por Mauro Boselli nas edições 298-299, e que aqui se torna o pano de fundo para o retorno de Arno e do Medical Team, motor narrativo da aventura que também proporciona um breve vislumbre da difícil situação da população local.
ATENÇÃO: contém spoiler
A trama se desenrola como um thriller de ação com nuances de terror investigativo: ritmo agradável, atmosferas noturnas evocativas e uma leitura fluida. O aspecto mais marcante reside nas duas protagonistas mortas-vivas, Zenya e Polina. Vampirizadas por Vurdalak, mas agora "órfãs" do Mestre, elas optam por se dedicar ao bem, ajudando populações necessitadas com arriscadas entregas aéreas noturnas. Suas caracterizações se baseiam no esquadrão feminino das "Bruxas da Noite" - o 588º Regimento Soviético de Bombardeiros Noturnos - e representam o fulcro narrativo da história: inicialmente adversárias, depois hesitantes e, finalmente, aliadas cruciais na batalha final.
Essa construção segue quase servilmente o primeiro volume da série de Eccher, a edição nº 137, "Os implacáveis": a mesma dinâmica relacional com Harlan & Cia, com um epílogo diferente. Mas se Butch Cassidy e Sundance Kid desfrutavam de um carisma e relevância inevitavelmente superiores, aqui Zenya e Polina - embora bem escritas e envolventes - não alcançam os mesmos patamares de épico e paixão, em parte porque seu arco carece da intensidade de uma despedida definitiva. A escolha de deixá-las viver é eficaz, pois abre a possibilidade de seu retorno, mas priva esta história da dimensão épica que ajudou a tornar o volume anterior eficaz e notável.
O resultado é um álbum sólido, bem elaborado, agradável e bem escrito, mas também canônico e sem grandes destaques. Por fim, a decisão de não revelar os instigadores dos mercenários pode ser interpretada de duas maneiras: por um lado, como uma mensagem universal (refugiados continuam sendo vítimas, independentemente de quem os controla, sejam governos, multinacionais ou militares); por outro, como uma semente para desenvolvimentos futuros, com a possível chegada de um novo antagonista significativo.
Enquanto isso, a própria natureza dos inimigos, "simples" mercenários em vez de mortos-vivos e/ou Mestres da Noite, muda o foco para um horror menos mítico, mas mais concreto, feito de brutalidade humana, sem excluir a possibilidade de que uma força maior possa estar agindo nos bastidores.
Os desenhos impecáveis de Simone Delladio realçam tudo: detalhes meticulosos, rostos expressivos, cenas de ação impactantes e um cenário noturno belíssimo. Um estilo carismático que confere grande profundidade à história.
Publicado originariamente no site: www.ubcfumetti.com